Tirus assentiu satisfeito, então Erec estendeu a mão e deixou cair sua espada e a bainha até o chão. Elas atingiram o solo com um estrondo.
Kendrick seguiu seu exemplo, assim como Bronson e Srog, cada um deles estava relutante, mas todos sabiam que era o mais sábio a fazer.
Ouviu-se atrás deles o som do choque de milhares de armas, todas caindo e golpeando o chão frio do inverno; todo o Exército Prata, os MacGils e os silesianos se renderam.
Tirus deu um sorriso largo.
“Agora desmontem.” Ordenou ele.
Um de cada vez, eles desmontaram e se colocaram diante de seus cavalos.
Tirus deu um sorriso de orelha a orelha, saboreando sua vitória.
“Durante todos esses anos em que eu estava exilado na Ilhas Superiores, eu invejava a Corte do Rei, o meu irmão mais velho e todo o seu poder. Mas agora qual dos MacGil detém todo o poder?”
“O poder da traição não é poder nenhum.” Retrucou Bronson.
Tirus fez um gesto zombeteiro e logo fez um sinal com a cabeça para os seus homens.
Eles correram para a frente e ataram os pulsos de cada um dos homens com cordas grossas. Todos eles começaram a ser arrastados para longe, eram milhares de cativos.
Enquanto Kendrick estava sendo puxado, de repente ele se lembrou de seu irmão, Godfrey. Todos eles tinham partido juntos, porém ele ainda não tinha visto nem Godfrey ou seus homens em lugar nenhum, desde então. Kendrick se perguntava se de alguma forma, ele teria conseguido escapar. Ele rezava para que Godfrey tivesse um destino melhor do que o deles. De alguma forma, ele estava otimista.
Com Godfrey, ninguém podia saber ao certo.
CAPÍTULO QUATRO
Godfrey cavalgava liderando seus homens, flanqueado por Akorth, Fulton, seu general silesiano e o comandante do Império a quem ele tinha subornado generosamente. Godfrey cavalgava com um largo sorriso no rosto, ele sentiu-se mais do que satisfeito quando ele olhou e viu a divisão do Império, ela estava formada por milhares de homens fortes, os quais cavalgavam ao lado deles, juntando-se a sua causa.
Ele lembrava com satisfação a recompensa que ele lhes tinha dado, as bolsas intermináveis de ouro, e lembrou-se ainda dos olhares em seus rostos. Godfrey estava exultante ao ver que seu plano havia funcionado. Ele não tinha tido certeza disso até o último momento, e agora, pela primeira vez, ele respirava calmamente. Depois de tudo, havia muitas maneiras de ganhar uma batalha e ele tinha acabado de ganhar uma sem derramar uma gota de sangue. Talvez isso não fizesse dele alguém cavalheiresco ou ousado como os outros guerreiros. Mas ainda assim, ele era exitoso. E afinal de contas, não era esse o objetivo? Ele preferia manter todos os seus homens vivos com um pouco de suborno, a ter de ver metade deles morrer em algum ato imprudente de cavalheirismo. Era assim que ele era.
Godfrey havia trabalhado duro para conseguir o que ele tinha. Ele usou todas as suas conexões no mercado negro através dos bordéis, becos e tavernas, a fim de descobrir quem estava dormindo com quem, quais bordéis os comandantes do Império frequentavam no Anel e que comandante do Império estava aberto ao suborno. Godfrey tinha mais contatos no baixo mundo do que a maioria, de fato, ele tinha passado toda a sua vida acumulando esses contatos e agora eles tinham vindo a calhar. Ele também não tinha machucado ninguém e tinha pagado cada um de seus contatos muito bem. Finalmente, ele tinha utilizado bem o ouro de seu pai.
Ainda assim, Godfrey não tinha certeza de que eles eram de confiança, não até o último momento. Não havia ninguém melhor para trair alguém do que um ladrão e, no entanto, Godfrey tinha de aproveitar a chance que ele estava tendo. Ele sabia que era uma espécie de loteria, que aquelas pessoas se vendiam ao melhor comprador. Mas ele pagou-lhes com muito ouro, ouro da melhor qualidade e eles acabaram por ser mais confiáveis do que ele pensava.
É claro que ele não tinha ideia de quanto tempo aquela divisão das tropas do Império permaneceria leal. Mas pelo menos, ele os tinha desviado de sua batalha original e por enquanto, ele tinha a todos de seu lado.
“Eu estava errado sobre você.” Disse uma voz.
Godfrey virou-se para ver o general silesiano chegando ao lado dele com um olhar de admiração.
“Eu duvidei de você, tenho de admitir…” Ele continuou. “Eu peço desculpas. Eu não poderia ter imaginado o plano que você tinha debaixo da manga. Foi genial. Eu não vou questioná-lo novamente.”
Godfrey sorriu de volta, sentindo-se vindicado. Todos os generais, todos os tipos militares, haviam duvidado dele durante toda a sua vida. Na corte de seu pai, uma corte de guerreiros, ele sempre havia sido olhado com desdém. Agora, finalmente eles estavam vendo que ele, a sua maneira, poderia ser tão competente quanto eles.
“Não se preocupe.” Disse Godfrey. “Eu também me questiono todo o tempo. Estou aprendendo enquanto eu sigo. Eu não sou um comandante e eu não tenho nenhum plano mestre, a não ser sobreviver de qualquer maneira que eu puder.”
“E para onde vamos agora?” Perguntou o general.
“Vamos nos juntar a Kendrick, Erec e aos outros e fazer o que pudermos para apoiar a sua causa.”
Eles cavalgavam, milhares deles, formando uma aliança estranha e desconfortável entre os homens do Império e os de Godfrey. Eles avançavam enquanto subiam e desciam colinas e atravessavam as longas planícies áridas e empoeiradas, dirigindo-se ao vale onde Kendrick tinha lhes dito que se encontrariam.
Enquanto cavalgavam, um milhão de pensamentos dava voltas na cabeça de Godfrey. Ele se perguntava como Kendrick e Erec tinham se saído e qual seria a sua desvantagem numérica; ele se perguntava também, como ele próprio se sairia na próxima batalha, uma batalha real. Não haveria mais como evitá-la; ele não tinha mais truques na manga, nem mais ouro.
Ele engoliu em seco, nervoso. Ele achava que não tinha o mesmo nível de coragem que todos os outros pareciam ter; o mesmo nível com o qual todos eles pareciam ter nascido. Todos pareciam tão destemidos na batalha e até mesmo na vida. Mas Godfrey tinha de admitir que ele estava com medo. Quando chegasse a ocasião, ele sabia que não iria fugir no meio da batalha. Mas ele era tão atrapalhado e desajeitado; ele não tinha as habilidades dos outros e ele simplesmente não sabia quantas vezes ele seria salvo pelos deuses da sorte.
Os outros não pareciam se importar se eles morreriam, todos eles pareciam muito dispostos a dar suas vidas pela glória. Godfrey apreciava a glória. Mas ele amava mais a vida. Ele amava sua cerveja e adorava sua comida, mesmo naquele momento, ele sentia seu estômago roncar e uma vontade enorme de estar de volta na segurança de uma taverna, em algum lugar. Ele simplesmente não estava feito para uma vida de batalha.
Mas Godfrey pensou em Thor, lá fora em algum lugar, no cativeiro; ele pensou em todos os seus parentes lutando pela causa, ele sabia que aquele era o lugar onde sua honra – por mais manchada que pudesse estar – o obrigava a estar.
Eles cavalgaram por um bom tempo e finalmente, todos alcançaram uma encosta que lhes proporcionava uma vista deslumbrante do vale que se espalhava abaixo. Eles fizeram uma pausa e Godfrey olhou para o sol ofuscante, tentando se adaptar para captar a visão diante dele. Ele levantou a mão para proteger os olhos e olhou ao redor, confuso.
Então, para seu horror, tudo ficou claro. O coração de Godfrey parou: lá embaixo, milhares de homens de Srog Kendrick e Erec estavam sendo arrastados, preso como cativos. Aquela era a força de combate com a qual se supunha que ele deveria se encontrar. Eles estavam completamente cercados, por dez vezes o número de soldados do Império. Eles estavam a pé, com seus punhos amarrados, todos feitos prisioneiros, todos sendo levados. Godfrey sabia que Kendrick e Erec nunca se renderiam a menos que houvesse um bom motivo. Parecia que eles tinham sido vítimas de uma armadilha.
Godfrey ficou paralisado, golpeado pelo pânico. Ele se perguntava como isso poderia ter acontecido. Ele estava esperando