Não se ouvia uma mosca no edifício. Partículas de poeira pairavam no ar. Alguns momentos antes, um pequeno robô tinha introduzido uma mini-câmara debaixo da porta à procura de explosivos do outro lado. Negativo. O robô já não era necessário.
Dois tipos da SWAT avançaram com um pesado aríete. Era do tipo de balanço com um polícia a segurar uma pega em cada lado. Não emitiram um som. O chefe da equipa SWAT levantou o punho. Surgiu o dedo indicador.
E era um.
Dedo médio. Dois.
Anelar…
Os dois homens recuaram e balançaram o aríete. BAM!
A porta explodiu para dentro enquanto os agentes se agachavam. Quatro esgueiraram-se lá para dentro, gritando subitamente, “Baixem-se! Baixem-se! BAIXEM-SE!”
Algures no átrio, ouviu-se um choro de criança. Portas abriram-se, cabeças espreitaram e depois recolheram-se. Não era novidade nenhuma por ali. Às vezes os polícias apareciam e partiam a porta de um vizinho.
Luke e Ed esperam cerca de trinta segundos até a equipa SWAT dar o apartamento como seguro. O corpo estava no chão da sala, tal como Luke suspeitava que estaria. Mal olhou para ele.
“Tudo ok?” Perguntou ao chefe da SWAT. O tipo encarou Luke por um momento apenas. Tinha ocorrido uma breve discussão quando Luke requisitara esta equipa. Estes tipos eram do DPNI. Não eram peças de xadrez que os agentes federais pudessem dispor a seu bel-prazer. E queriam que Luke o soubesse. Luke não tinha qualquer problema com isso mas um ataque terrorista não era propriamente o capricho de um homem.
“Tudo ok,” Declarou o chefe da equipa. “Este deve ser o teu suspeito.”
“Obrigado,” Agradeceu Luke.
O tipo encolheu os ombros e desviou o olhar.
Ed ajoelhou-se junto ao cadáver. Trazia consigo um scanner de impressões digitais. Retirou impressões de três dedos.
“Que te parece, Ed?”
Encolheu os ombros. “Carreguei previamente as impressões de Ken Bryant a partir da base de dados da polícia. Vamos saber se é ele dentro de alguns segundos. Entretanto, podemos ver óbvias marcas de estrangulamento e inchaço. O corpo ainda está quente. O rigor mortis já se instalou mas ainda não completamente. Os dedos estão a ficar azuis. Diria que morreu da mesma forma que os seguranças do hospital, por estrangulamento há aproximadamente oito a doze horas.”
Olhou para Luke. Um brilho reluzia-lhe nos olhos. “Se não te importares de lhe tirar as calças, posso obter uma leitura da temperatura retal e determinar de forma mais aproximada a hora da morte.”
Luke sorriu e abanou a cabeça. “Não, obrigado. Oito a doze horas está ótimo. Mas diz-me: é ele?”
Ed olhou para o scanner. “O Bryant? Sim, é ele.”
Luke pegou no telefone e ligou para Trudy. Do outro lado, o telefone tocava. Uma, duas, três vezes. Luke olhou em redor observando a desolação sombria do apartamento. A mobília da sala era antiga com estofos rasgados e com o enchimento a saltar dos braços do sofá. Um tapete puído estava aberto no chão e caixas de comida rápida e utensílios de plástico encontravam-se espalhados pela mesa. Pesadas cortinas pretas estavam penduradas nas janelas.
Trudy atendeu com voz alerta, quase musical. “Luke,” Disse. “Quanto tempo passou? Meia hora?”
“Queria-te falar do porteiro desaparecido.”
“Ken Bryant,” Disse Trudy.
“Pois. Ele já não está desaparecido. O Newsam e eu estamos no apartamento dele neste momento e já o identificámos. Morreu há cerca de 8, 12 horas. Estrangulado como os seguranças.”
“Ok,” Afirmou.
“Quero que acedas às contas bancárias dele. Possivelmente tinha um depósito direto do trabalho. Começa por aí e vê o que consegues depois.”
“Hmm, vou precisar de um mandato para isso.”
Luke compreendia a sua hesitação. Trudy era uma boa profissional mas também era jovem e ambiciosa. Quebrar as regras tinha afastado muitos de uma carreira promissora. Mas nem sempre. Às vezes quebrar as regras conduzia a promoções relâmpago. Tudo dependia de quais as regras que se quebravam e os resultados que daí advinham.
“Tens aí o Swann contigo?” Perguntou Luke.
“Sim.”
“Então não precisas de um mandato.”
Ela não respondeu.
“Trudy?”
“Estou aqui.”
“Não temos tempo para pedir um mandato. Há vidas em jogo.”
“O Bryant é um suspeito neste caso?”
“É alguém que pode estar envolvido. De qualquer das formas, está morto. Penso que não estamos a violar os seus direitos.”
“Posso depreender que é uma ordem tua, Luke?”
“É uma ordem direta,” Confirmou. “Isto é da minha responsabilidade. Se quiseres colocar as coisas num outro nível, digo-te que o teu emprego depende disto. Ou fazes o que te peço ou dou início a um processo disciplinar. Compreendido?”
A resposta dela foi petulante, quase infantil. “Está bem.”
“Muito bem. Quando acederes à conta dele, procura qualquer coisa fora do normal. Dinheiro que não devia estar ali. Grandes depósitos ou grandes levantamentos. Transferências bancárias. Se tem uma conta poupança ou investimentos ligados, analisa-os. Estamos a falar de um ex-condenado com um emprego sob custódia. Não deveria ter muito dinheiro. Se tiver, quero saber de onde veio.”
“Ok, Luke.”
Hesitou antes de perguntar. “Como vai isso das matrículas?
“Estamos a trabalhar o mais rápido que podemos,” Disse Trudy. “Acedemos a filmagens noturnas das câmaras da 5ª. Avenida e da 96th Street, bem como da 5ª. Avenida e da 94th Street, e mais algumas da vizinhança. Estamos a monitorizar 198 veículos, 46 dos quais prioritários. Devo ter um relatório inicial do quartel-general dentro de quinze minutos.”
Luke olhou para o relógio. O tempo escasseava. “Ok. Bom trabalho. Vamos para aí logo que possível.”
“Luke?”
“Sim.”
“A história já corre na imprensa. Têm três feeds em direto no placard principal. É a história do dia em todo o lado.”
“Bem me parecia.”
Ela continuou. “O Presidente da Câmara agendou um comunicado para as 06:00. Parece que vai aconselhar toda a gente a ficar em casa hoje.”
“Toda a gente?”
“Quer que todo o pessoal não vital permaneça em Manhattan. Todos os funcionários de escritório, todos os funcionários de limpeza e lojistas. Todas as crianças e professores. Vai sugerir que cinco milhões de pessoas tirem um dia de folga.”
Luke encostou a mão à boca. Suspirou. “Isso vai ser ótimo para o moral,” Declarou. “Se toda a gente em Nova Iorque ficar em casa, os terroristas talvez ataquem Filadélfia.”
CAPÍTULO 8
05:45
Baltimore, Maryland – A sul do túnel Fort McHenry
Eldrick estava sozinho a cerca de 10 metros da carrinha. Acabara de vomitar mais uma vez. Praticamente já só expelia sangue e isso preocupava-o. Ainda tinha vertigens, febre e continuava enrubescido mas, com o estômago vazio, já não se sentia nauseado. Mas o melhor de tudo é que estava finalmente fora da carrinha.
Algures