O homem fez o que Luke mandou. Os olhos já não dardejavam severidade.
“Vejo que o polegar o chamou à razão. Por isso mesmo, de seguida, vai o polegar esquerdo. Depois disso, começamos com os dentes. Ed?”
Ed dirigiu-se à esquerda do homem.
“Kahlil Gibran,” Arfou Nassar.
“O que disse? Não o ouvi.”
“Kahlil underscore Gibran. É a palavra-passe.”
“Como o autor?” Perguntou Luke.
“Sim.”
“E como se trabalha o amor?” Começou Ed, citando Gibran.
Luke sorriu. “É tecer o tecido com fios desfiados de vosso próprio coração, como se o vosso amado fosse usar esse tecido. Temos esta citação na parede da nossa cozinha lá em casa. Adoro estas coisas. Pelos vistos, somos três românticos incuráveis.”
Luke aproximou-se do computador e percorreu o teclado com os dedos. A caixa da palavra-passe surgiu e ele digitou as palavras.
Kahlil Gibran.
E logo surgiu o ambiente de trabalho. A imagem de fundo era uma foto de montanhas cobertas de neve com prados amarelos e verdes em primeiro plano.
“Parece que agora sim. Obrigado, Ali.”
Luke tirou do bolso apertado das calças um disco rígido externo que Swann lhe dera. Ligou-o a uma porta USB. O disco externo tinha imenso espaço. Engoliria sem dificuldade toda a informação contida no computador deste homem. Preocupavam-se mais tarde em desencriptar alguma coisa.
Iniciou a transferência de ficheiros. No monitor, surgiu uma barra horizontal vazia. Do lado esquerdo, a barra começou a preencher-se de verde. Três porcento verde, quatro porcento, cinco. Por baixo da barra, uma enormidade de nomes de ficheiros aparecia e desaparecia à medida que eram copiados para o disco de destino.
Oito porcento. Nove porcento.
Subitamente, ouviu-se agitação na sala principal. As portas de entrada abriram com estrondo. “Polícia!” Alguém gritou. “Larguem as armas! No chão!”
Andaram pelo apartamento derrubando objetos, portas. Pareciam ser muitos. Chegariam ali num instante.
“Polícia! No chão! No chão! No chão!”
Luke olhou para a barra horizontal. Parecia ter parado nos doze porcento.
Nassar fixou Luke. Lágrimas escorriam-lhe dos olhos, os lábios tremiam, o rosto estava vermelho e o corpo quase nu destilava suor. Não tinha uma aparência triunfante.
CAPÍTULO 13
07:05
Baltimore, Maryland – A sul do Túnel Fort McHenry
Eldrick Thomas acordou de um sonho.
No sonho, estava numa pequena cabana nas montanhas. O ar estava limpo e fresco. Sabia que estava a sonhar porque nunca tinha estado numa cabana. Havia uma lareira de pedra com fogo aceso. O fogo estava quente e ele estendia as mãos na direção das chamas. No quarto ao lado, ouvia a linda voz da avó a cantar um antigo hino religioso.
Abriu os olhos e encarou o dia.
Tinha muitas dores. Tocou no peito. Estava viscoso com sangue mas os tiros não o tinham morto. Estava doente devido ao contato com a radioatividade. Disso lembrava-se. Olhou à sua volta. Estava deitado na lama e rodeado de um denso matagal. À esquerda tinha uma grande massa de água, um rio ou porto. Conseguia ouvir o ruído de uma autoestrada não muito longe.
Ezatullah tinha-o perseguido até ali. Mas isso já tinha sido… há muito tempo. Ezatullah já se devia ter ido embora.
“Vamos lá,” Disse. “Tens que te mexer.”
Seria fácil simplesmente ficar ali. Mas se o fizesse, morreria. E ele não queria morrer. Já não queria ser um jihadista. Só queria viver. Mesmo que passasse o resto da vida na prisão. Não se importava com a prisão. Tinha passado muito tempo na prisão e não era assim tão mau como as pessoas diziam.
Tentou pôr-se de pé mas não sentia as pernas. Pareciam não existir. Rolou sobre o estômago. A dor atravessava-o como uma descarga elétrica. Foi para um lugar escuro. O tempo passou. Depois regressou. Ainda ali estava.
Começou a rastejar, as mãos a agarrarem a lama e a impulsionarem-no. Arrastou-se por uma longa colina, aquela por onde tinha caído na noite anterior e que provavelmente lhe tinha salvo a vida. Chorava de dor mas continuou. Não queria saber da dor, só queria chegar ao outro lado da colina.
Decorreu algum tempo. Estava deitado com o rosto colado à lama. Os arbustos eram um pouco menos densos ali. Olhou em seu redor. Agora estava acima do nível do rio. O buraco na vedação estava mesmo à sua frente. Rastejou na sua direção.
Ficou preso na vedação enquanto a tentava ultrapassar. A dor fê-lo gritar.
Não muito longe, dois velhos homens negros estavam sentados em baldes brancos. Eldrick conseguia vê-los com uma clareza surreal. Nunca tinha visto ninguém com tamanha clareza. Tinham canas de pesca, caixas com apetrechos e um grande balde branco. Tinham um grande refrigerador azul com rodas. Tinham sacos de papel brancos e pratos de pequeno-almoço do McDonald’s. Atrás deles, repousava um velho Oldsmobile ferrugento.
As suas vidas eram um paraíso.
Meu Deus, por favor deixe-me ser eles.
Quando ele gritou, os homens correram na sua direção.
“Não me toquem!” Avisou. “Estou contaminado.”
CAPÍTULO 14
07:09
Casa Branca – Washington, D.C.
Thomas Hayes, Presidente dos Estados Unidos da América, estava de calças e camisa no balcão da cozinha da família na Casa Branca. Descascou uma banana e esperou que o café arrefecesse. Quando estava sozinho preferia entrar aqui silenciosamente e preparar um pequeno-almoço simples. Ainda nem tinha posto a gravata. Tinha os pés descalços. E a cabeça repleta de pensamentos negativos.
Esta gente está a comer-me vivo.
Este pensamento era um intruso indesejado na sua mente, o tipo de coisa que ultimamente lhe ocorria cada vez com mais frequência. Outrora fora a pessoa mais otimista que já conhecera. Desde cedo que sempre fora figura de cartaz onde quer que estivesse. Orador no secundário, capitão da equipa de remo, presidente da associação de estudantes. Summa cum laude em Yale, summa cum laude em Stanford. Académico em Fullbright. Presidente do Senado Estadual da Pensilvânia. Governador da Pensilvânia.
Sempre acreditou que seria capaz de encontrar a solução mais adequada para todos os problemas. Sempre acreditou no poder da sua liderança. E mais do que isso, sempre acreditou na bondade intrínseca do ser-humano. Tal já não se verificava. Cinco anos como Presidente tinham sido suficientes para deitar o seu otimismo por terra.
As horas sem fim não eram problema. Os vários departamentos e imensa burocracia, não eram problema. Até há bem pouco tempo, entendia-se perfeitamente com o Pentágono. Podia viver com os Serviços Secretos atrás dele vinte e quatro horas por dia, a imiscuírem-se em todos os aspetos da sua vida.
Até a comunicação social não era um problema, nem os ataques ignorantes que lhe faziam. Não era problema a forma como ridicularizavam a sua “formação de country club” ou a sua “liberalidade de limusina”. O problema não residia nos media.
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