Pero da Covilhan: Episodio Romantico do Seculo XV. Brandão Zephyrino. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: Brandão Zephyrino
Издательство: Public Domain
Серия:
Жанр произведения: Зарубежная классика
Год издания: 0
isbn: http://www.gutenberg.org/ebooks/32296
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bésteiros do conto tanto os de cavallo, como os de pé.

      Dividia-se a cavallaria em pesada e ligeira ou á gineta. Na primeira, o homem era arnezado, e o cavallo bardado e encapacetado. Na segunda, os cavalleiros pelejavam armados de lança e adarga, usando de estribos curtos no apparelho do cavallo.

      A infanteria constava de bésteiros, espingardeiros e piqueiros de pé.

      Na bésteria differençavam-se os chamados de polé, por trazerem bésta, que se armava com uma roldana d'aquelle nome; os bésteiros da camara, que eram acontiados e fornecidos pelas camaras do reino; bésteiros de garrucha, mais abastados e considerados, que os de polé, armados com bacinete de camal ou de baveira, e tendo bésta com garrucha e solhas para arremessar virotões; bésteiros de fraldilha, por levarem uma fralda de couro, que lhes servia como de escudo contra as settas do inimigo; e bésteiros do monte ou caçadores.

      Notaremos que o numero das armas de arremesso se reduzia cada vez mais, á medida que as de fogo triumphavam da repugnancia, com que foi acolhida, durante muito tempo, a sua invenção, mórmente pela cavallaria, que considerava cobardes similhantes armas, com especialidade as portateis. No reinado de D. João II apparece já o cargo de anadél-mór dos espingardeiros, concedido a Payo de Freitas, cavalleiro da casa real, cabendo mais tarde ao rei D. Manoel a sua vez de extinguir em 1498 os acontiados e bésteiros, tanto de conto, como da camara, todos os cargos de officiaes móres e pequenos da bésteria, deixando unicamente os bésteiros do monte em alguns lugares da Beira Alta, Alemtejo e Algarve, com um anadél-mór, que era Pedr'alves, cavalleiro da sua casa, como consta da carta de 29 de maio de 1499.

      A segunda dignidade do exercito de D. Affonso V era a de marechal, a quem pertencia, além de outras obrigações e prerogativas: repartir os alojamentos; executar e fazer cumprir as ordens, que recebia do condestavel; e julgar as causas civeis e crimes das gentes de guerra, levando um ouvidor comsigo para esse fim.

      O alféres-mór levava a signa ou bandeira, a qual não estendia ou desenrolava sem especial determinação do rei, quando estivessem á vista do inimigo, e costumava ter um alferes pequeno, que o substituia. As bandeiras dos fidalgos não podiam tirar-se das fundas e estender-se, sem que o fosse a bandeira real; podiam, porém, ir sempre estendidos os balsões ou insignias. No guião do rei via-se a divisa que Affonso V tomára por sua mulher D. Isabel, e consistia em um rodizio de moinho com gottas de agua esparzida ao redor, e na legenda Jámais. Com oito ou dez pendões pequenos era balizado e divisado o lugar escolhido para acampar.

      Havia um aposentador-mór, que de ante-mão preparava os quarteis das tropas, quando estas se mobilisavam. O capitão de ginetes era o general de cavallaria; o adail-mór, o capitão dos bésteiros; e o coudel-mór commandava escudeiros e homens de armas, que não pertenciam a capitania alguma, e eram repartidos em tróços de vinte por coudeis.

      Desempenhavam o serviço e a guarda do rei vinte cavalleiros ou escudeiros, commandados por um guarda-mór. Eram escolhidos, e andavam armados de cotas, barretas, braçaes, lanças e espadas; e no tempo de paz assistiam no paço junto da real camara. Algumas vezes o soberano encarregava tambem da sua guarda o capitão de ginetes, sendo então de duzentos o numero de cavalleiros, que ficavam em tudo considerados como os da camara real.

      Segundo prescrevia o Regimento, os soldados ou gente de guerra deviam trazer em batalha uma divisa, ou sinal d'armas de S. Jorge, larga, e tanto no peito como nas costas, para se distinguirem do inimigo. As trombetas eram os instrumentos empregados nos diversos toques ou chamadas; mas affirma Ruy de Pina, que n'esta marcha a Castella já o nosso exercito usou tambem dos atabales.

      O trem de artilheria com suas bombardas e colubrinas era morósamente conduzido. Estava a cargo de um védor-mór, aprompta-lo e pô-lo em marcha.

      Para este fim tinha atribuições amplas, estabelecidas em um regimento proprio, de que se lhe passou carta em 20 de abril de 1450. Requisitava ás auctoridades locaes as bestas, bois, carros e barcos, que julgassse indispensaveis á conducção do trem, sendo depois pago o aluguer; bem como os bombardeiros, ferreiros, carpinteiros e pedreiros, de que houvesse necessidade o serviço de artilheria, e aos quaes pagava conforme os seus merecimentos. Annexa ao trem ia uma brigada de gastadores, para abrir caminho.

      O principe D. João acompanhou seu páe até Piedra Buena, e d'aqui regressou a Portugal na mesma occasião, em que o exercito marchou para o norte, indo fazer alto em Plasencia.

      D'esta cidade mandou D. Affonso V a Luiz XI uma embaixada, composta de D. Alvaro de Ataide e do licenciado João d'Elvas, a fim de negociar o seu reconhecimento como rei de Castella, e, conforme os desejos do rei de França, renovar os antigos tractados, que existiam entre as duas monarchias. Ao mesmo tempo escreveu á cidade de Salamanca uma carta sobre os direitos de sua sobrinha aos reinos de Castella e Leão, e mandou publicar um manifesto, no qual se demonstrava a justiça bem fundada, com que eram combatidas as pretensões de Isabel e Fernando de Aragão.

      Celebrou esponsaes com a princeza D. Joanna, que já o esperava acompanhada dos duques de Arévalo, marquez de Vilhena e outros magnates, e foi publica e solemnemente proclamado rei, pelo que logo começou de intitular-se rei de Castella, Leão e Portugal.

      Isabel e Fernando accrescentaram igualmente aos seus titulos os de reis de Portugal; de modo que não parecia luctarem uns pela união iberica e outros contra, senão méramente para dar a presidencia d'essa união áquelle que mais afortunado fosse.

      D. Affonso V ia passando os dias em ruidosas festas, como se com ellas se formasse o prestigio dos noivos, e nem por sombras suspeitava das diligencias de D. Isabel, em comprar com o ouro e prata das egrejas o favor de muitas povoações, visto serem mui versateis e caros os magnates. Em quanto o seu antagonista se divertia, conquistava ella as sympathias da classe burgueza. Percorria os seus estados. Procurava e enviava soccorros ao exercito, que seu marido commandava, para conter o progresso da invasão. Assegurava a fidelidade vacillante de Leão. Entabolava as intelligencias, que lhe fizeram recobrar a importante cidade da Zamora. Reduzia o numero de inimigos, que tinha na depravada e cupida aristocracia. Lançava finalmente mão do thezouro de Castella, confiado á guarda do célebre Andrés de Contrera, a quem mais tarde brindou com o Marquezado de Moya.

      Na marcha pela provincia da Extremadura, por contemplação com o duque de Arévalo, senhor de Plasencia, commetteu D. Affonso V um erro estrategico; pois, segundo Zurita, «foi de grande remedio para a conservação do estado do rei da Secilia, e seria de grande prejuizo, se a entrada se effectuasse pela Andaluzia, direito a Sevilha». Seguindo este caminho, penetrava logo no interior do reino, e fazia-se fórte em Madrid, como lhe aconselhou o marquez de Vilhena, que se mostrou descontente por não ser attendido, e tomou este pretexto para se retirar do serviço do rei. Era de esperar, todavia, que esse magnate assim procedesse mais cedo ou mais tarde, por quanto, havendo-se declarado a maior parte de seus vassallos contra elle, e a favor de Isabel, que os corrompeu a peso de ouro, intimidou-o essa arteira tactica, e determinou-o a propalar, que já estava de accordo com D. Fernando e sua mulher.

      Por grande parte da fronteira portugueza succediam-se a miude as incursões de nossos visinhos. Até o primogenito do duque de Medina Sidonia, o duque D. Henrique, môço mais audacioso do que prudente, fez uma entrada em Portugal, como se fosse em terras de mouros.

      Este rebentão dos Medina Sidonia era um isabelista sedicioso. Pouco depois da jornada de seu tio a Portugal, rendeu-se ás astucias de D. Isabel, que lhe prometteu intervir pacificamente na eterna contenda com o marquez de Cadiz.

      E sabe o leitor, quem levou á rainha da Secilia a noticia d'aquella jornada de D. Juan de Guzman?

      – O velho mendigo, que nós vimos em Sevilha a tocar samphona. Era um espião.

      Para desaffrontar-nos dos repetidos insultos, que soffriamos, mandou o principe D. João descobrir a campanha por homens praticos no paiz, escoltados de alguma cavallaria; collocar sentinellas occultas nos lugares suspeitos, para avisarem das partidas do inimigo; cortar as estradas das serras com patrulhas, a fim de embaraçarem os castelhanos, que de ordinario se emboscavam por entre os arvoredos e quebradas do terreno; e proveu finalmente de remedio a tantos males, cuidando ao mesmo