A NOIVA AMERICANA
Barbara Cartland
Barbara Cartland Ebooks Ltd
Esta Edição © 2020
Título Original: “Dollars for the Duke”
Direitos Reservados - Cartland Promotions 2020
Capa & Design Gráfico M-Y Books
NOTA DA AUTORA
O homem, vivendo atarefado na era da mecanização, perdeu de vista a fé que sempre orientou os povos primitivos.
Quem viveu entre os nativos, na África, Índia ou em outras partes isoladas do mundo, compreendeu que esses nativos conseguem realizar verdadeiros milagres porque acreditam no poder da mente e em seus deuses.
Mas nem mesmo um feiticeiro, na África, pode evitar que uma pessoa morra se essa pessoa já pôs em sua mente que morrerá. Os vodus da América do Sul podem ensinar muitas coisas extraordinárias àqueles que se dispuserem a ouvi-los.
Os soldados que serviram na Índia no tempo do domínio inglês foram testemunhas de que muitos indianos tinham o poder de saber que um parente havia morrido, estando a centenas de quilômetros de distância.
O que esses povos usam é seu instinto, ou o que os egípcios chamam de «terceiro olho». Muito do que chamamos de «clarividência» é apenas o instinto que todos nós temos e que, se desenvolvido e usado corretamente, pode nos servir de inspiração e proteção.
CAPÍTULO I 1882
—Trouxe-lhe todas as contas, como pediu, Sr. Duque— disse o contador, colocando um maço de papéis sobre a escrivaninha do Duque Seldon Otterburn.
Após examiná-los com atenção, Seldon suspirou, como se não pudesse acreditar em tudo o que acabara de ler. Permaneceu em silêncio por um longo tempo. Desanimado, revirou algumas folhas e perguntou:
—Será possível, Fossilwaithe, que meu pai tenha contraído tantas dívidas assim? Por acaso nunca ouviu seus conselhos, ou os de qualquer outra pessoa?
—Posso lhe garantir, senhor, que, por várias vezes, eu e meus colegas tentamos alertar seu pai para as consequências de tantas dívidas, mas sabe o que ele chegou a me responder uma vez? Que eu me preocupasse apenas com os meus negócios!
Seldon concordou. Tinha certeza de que o contador dizia a verdade, pois lembrava-se muito bem do quanto seu pai detestava que alguém tentasse se opor a qualquer um de seus propósitos.
Mais uma vez, olhou para aqueles documentos, desejando que, por algum milagre, desaparecessem.
—Bem, Fossilwaithe, o que você acha que devemos fazer?
Seldon não percebeu, mas o contador o olhava penalizado, e suspirou antes de responder:
—Tenho pensado muito numa solução para seu caso, senhor, mas, infelizmente, não encontrei nenhuma até agora.
Seldon recostou-se na poltrona.
—Então, sejamos práticos, Fossilwaithe: o que posso vender?
E novamente, Fossilwaithe, o contador mais velho da firma, que tomava conta dos negócios da família Otterburn, parecia não ter o que dizer.
Sentindo a situação intolerável, Seldon levantou-se e atravessou a sala, parando em frente a uma grande janela, de onde se podia avistar as árvores do Hyde Park.
A casa dos Otterburn, em Londres, era grandiosa e elegante.
Mas Seldon, o quarto Duque de Otterburn, pensava no castelo e nas propriedades da família em Buckinghanshire, que herdara inesperadamente e para onde tinha ido há menos de um mês, depois de sua volta do Oriente.
Na verdade, ele nunca havia esperado assumir a posição de Duque, pois além de existir Lionel, seu irmão mais velho, seu pai gozava de uma ótima saúde e aos cinquenta anos, dava a impressão de que viveria mais uns quarenta.
No entanto, no inverno anterior, o antigo Duque de Otterburn sucumbira a uma forte gripe epidémica que assolara a Inglaterra e que havia feito mais vítimas do que uma guerra de pequenas proporções.
Seldon soube da morte do pai quando ainda estava se recuperando da notícia de que seu irmão mais velho tinha quebrado o pescoço e morrido numa caçada.
O aviso da morte de Lionel fora encontrá-lo em uma situação muito tensa, em meio à luta com algumas tribos guerreiras na fronteira com o Afeganistão. Embora tivesse desejado voltar ao seu país e estar com seus parentes naquele momento de aflição, lhe fora impossível sair do campo de batalha.
E havia sido também no campo de batalha que Seldon, dias depois, ficara sabendo da morte do pai. Sua presença era muito desejada na Inglaterra, e, devido à situação em que se encontrava, conseguira uma licença especial de seus superiores para partir o mais rápido possível.
Na viagem de volta, percorrendo as maravilhosas planícies ensolaradas da Ásia de trem e, muitas vezes, a cavalo, não conseguia deixar de pensar que sua permanência no Exército Britânico chegava ao fim.
Quando atingira a idade adulta, Seldon se dera conta de que, como filho mais novo, não deveria esperar receber grande parte da herança, e que precisava construir sua vida sozinho.
Mais tarde, percebera que, por mais que seu pai vivesse de maneira extravagante, as propriedades da família não estavam rendendo o suficiente e que o velho Otterburn estava se atolando em dívidas e mais dívidas.
Aquela situação, no entanto, não caberia a Seldon resolver, e ele tratara de seguir sua carreira no Exército, indo primeiramente para o Sudão. Depois de algum tempo, fora designado para atuar na Índia.
Por ser um soldado excelente e um líder nato, havia comandado uma companhia de soldados que montava guarda perto das fronteiras indianas.
Seu espirito de liderança, a capacidade de transmitir confiança a seus homens e o seu bom senso nos momentos de decisão, tornaram Seldon um personagem importante no Exército Britânico. Era um soldado no qual o alto comando podia confiar, caso as relações entre a Índia e os países próximos entrassem em crise.
E havia muitas crises na fronteira ao norte da Índia. As tribos das regiões vizinhas pareciam querer desbaratar a todo custo o poderio britânico e era preciso pulso firme para manter aquelas hordas de invasores distantes das fronteiras indianas.
Ao atravessar o mar Vermelho e o canal de Suez, Seldon tivera a certeza de que, dali para a frente, sua carreira militar estava acabada e desconhecia completamente o que o futuro lhe aguardava.
Não saberia dizer o que sentia, agora que era o quarto Duque de Otterburn.
Há três anos, quando estivera na Inglaterra, em férias, conversara sobre a situação da família com o irmão.
Seldon e Lionel eram muito amigos e os dois, se preocupavam bastante com a fortuna dos Otterburn.
—O velho anda gastando dinheiro como água!— dissera-lhe Lionel, naquela ocasião.
—E onde papai consegue tanto dinheiro assim?
—Só Deus sabe! Ele nunca discute sua vida comigo, você o conhece.
—Mas será que papai precisa viver cercado por tanta extravagância? Soube que ele contratou mais doze criados para Buckinghanshire, seis para nossa casa, aqui em Londres, e que nossos estábulos estão lotados de cavalos!
—É verdade!— exclamara Lionel—, e ainda deseja ampliar o estábulo, em Newmarket. Seus cavalos não venceram nenhuma prova durante o ano passado, e agora, ele quer a desforra!
—E, além dos cavalos, ele nunca se cansa de ampliar sua coleção de mulheres bonitas!
Os dois irmãos riram. Sabiam muito bem que o velho Otterburn era atraente e do quanto gostava de mulheres jovens e bonitas.
—Você