Diego Maenza
Traduzido por Daniela Ortega
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© Diego Maenza, 2020
© Tektime, 2020
© Daniela Ortega, tradução, 2020
Título original em espanhol: Todas las cartas de amor son ridículas
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Todas as cartas de amor são ridículas
Diego Maenza
Traduzido por Daniela Ortega
ÍNDICE
PRÓLOGO
Abelardo olha para o céu. Sorri, satisfeito, como não se fazia há dias, como não fazia há semanas. As nuvens se amontoam em um cinza enevoado, premonitórias. Suas pernas, nervosas e excitadas, o levam pela calçada, mas sua mente está imaginando o encontro iminente com Eloísa, o amor de sua vida. Sob sua axila direita, ele carrega o manuscrito, apertando-o como se o protegesse antecipadamente da tempestade que se aproxima. Sinta a brisa roçar seu rosto, bagunçar seus cabelos volumosos, acariciar suas maçãs do rosto. Abelardo olha para o chão. Observa o lixo que vibra com o vento. Seus pés descem para a calçada, despreocupados, como seu instinto sonhador, como seus olhos inquietos que se desviam novamente pelas formas da paisagem nublada. Por isso, ele não percebe o carro que atravessa a avenida rapidamente, por isso, não avança para ouvir até o último e inútil momento a buzina desesperada do também imprudente motorista. O metal do veículo atinge o corpo de Abelardo. Sua pele range, sua carne se dilata, seus ossos se quebram, sua anatomia golpeada é ejetada vários metros na mesma direção da brisa. Certos respingos de seu sangue se confundem, se misturam, s integram ao capô do carro. A cabeça do garoto bate no asfalto e causa o trauma. A chuva começa a cair, muito delicadamente. O pedestre mais despreocupado, em que a natureza inquisitiva do ser humano estará mais focada em verificar os detalhes circunstanciais do que em direcionar sua atenção para o centro do incidente (talvez com a intenção de tirar proveito material da situação trágica), será a única pessoa que notará as quatro palavras que encabeçam o manuscrito que foi parar perto de um esgoto, aquelas quatro palavras que já começam a se dissolver por toda a página devido à insipiente garoa e que constituem o título do trabalho que o jovem Abelardo, gravemente ferido, deseja publicar: Teoria dos afetos.
CAPÍTULO UM
Falar dela (eu sempre disse isso e mantenho) é falar da criatura menos comum. O que eu poderia dizer sobre ela que não soe como algo usual ou uma frase fácil, um tópico banal? O problema não está na falta de histórias sobre as quais falar discorrer, a complicação acaba sendo o oposto, porque, de fato, existem muitas maravilhas que poderiam ser comentadas sobre sua vida. A questão é que não me decido sobre com qual deles dar início a esta história. E devo considerar com calma. Detalhar sua vida será um processo interessante, mas poderia ser um deslize indesculpável da minha parte errar por um momento. Talvez outro interlocutor mais loquaz seja a pessoa apropriada para capturar sua essência com precisão e objetividade; no entanto, minha pretensão é muito mais ambiciosa: nesse processo, preciso revelar o que ela significou para mim. Onde encontrar a fonte mais cristalina da verdade, senão nela? Para seus lábios, a mentira é proibida, e isso a capacita a fazer comigo o que ela quer. Sua luta para ser mulher forjou o animal mais utópico, que carrega uma idolatria desesperada pela vida. Ela gosta de amar... Ela gosta de me amar. Entrar em detalhes de seu ser seria profaná-la. Por acaso os crentes tentaram descrever seus deuses? Mas devo correr o risco, mesmo ao custo de não escapar ileso da tentativa. Seu caráter cru e imponente, os seios altivos que desenham curvas no ar, a voz de melodia pegajosa e doce, o olhar travesso me beliscando em carícias indeléveis, sua inteligência prática e o espírito generoso, a garra invisível de seus quadris batendo contra o vento em sua maneira peculiar de andar, seu senso de humor, o sorriso hábil projetando seu perfil picaresco. Ela é isso e muito mais. O protótipo da mulher perfeita. Um ser fictício transmutado em realidade. Seu nome é Eloísa.
Meu nome era Eloísa e já não sou jovem. Não depois de tudo que me aconteceu. Mesmo com o passar dos anos e apesar da juventude de minhas células, eu me vi devorada por uma velhice espiritual que preservei até hoje e que nunca saiu de minhas veias. O corpo é algumas vezes o reflexo da alma e outras vezes sua tortura. Porque nascemos em um tempo e em um espaço em que a beleza é sinônimo de sofrimento, mesmo que insistam em dizer o contrário.
Eu era magra e bonita, graciosa e frágil como a gazela que mostra como é esbelta sem perceber que hienas e lobos famintos espreitam das sombras.
Hoje,