Romancistas Essenciais - Franklin Távora. August Nemo. Читать онлайн. Newlib. NEWLIB.NET

Автор: August Nemo
Издательство: Bookwire
Серия: Romancistas Essenciais
Жанр произведения: Языкознание
Год издания: 0
isbn: 9783955777036
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      O Autor

      João Franklin da Silveira Távora nasceu no ano de 1842 no dia 13 de janeiro em Baturité, no Ceará. Seus pais eram Maria de Santana da Silveira e Camilo Henrique da Silveira Távora. Estudou em Fortaleza, em Recife e em Goiana. Fez Faculdade de Direito pela qual iria formar-se advogado em 1863. Durante sua vida Franklin teve outras profissões além da advocacia. Já trabalhou como romancista, jornalista e até mesmo político. Residiu no Rio de Janeiro, trabalhando na Secretaria do Império. Redigiu como jornalista A verdade, e A consciência. Ele também fundou a Revista Brasileira. Contribuiu para a reconstrução do passado pernambucano através da sua imaginação, ficção e história. Foi político e foi contra as ideias de José De Alencar, porque o mesmo não compartilhava de opinião semelhante a sua a respeito do Romantismo. Apesar de encontrarmos muitas características do romantismo nas obras de Franklin, ele foi um dos autores que introduziram o Realismo e o Naturalismo no Brasil naquela época. Além disso, fez uso de pseudônimos, o que era muito comum. Seus pseudônimos eram ‘’Semprônio’’ e “Farisvest”, que utilizou para escrever cartas para ferir a imagem de José de Alencar, pois como citado a cima, José não concordava com a ideia romancista de João, e foi também dessa ‘’campanha’’ que se iniciou uma campanha a favor de uma literatura mais nacionalista, pois, nada mais brasileiro do que o brasileiro escrevendo sobre sua pátria, ou seja, um nacionalismo na literatura. Dessa forma, pode-se caracterizar sua obra de forma geral com regionalista e nacionalista. Também fundou a associação dos homens de letras, foi sócio do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, e ainda foi patrono na cadeira 14 da Academia Brasileira de Letras. Por fim, Franklin falece no ano de 1888 no dia 18 de agosto, na cidade do Rio De Janeiro.

      Revista publicada entre os anos de 1872 e 1873, em Recife Com a chegada do Dom Vital à Pernambuco, a maçonaria, resolveu ser representada por um órgão que defendesse seus direitos e promovesse seus interesses, então convidou Franklin Tavora a fundar e dirigir este órgão. A princípio a Verdade se publicava semanalmente e depois duas vezes por semana. aumentando de formato, Por ver-se a maçonaria compelida pela reação episcopal precisou ser mais assídua na sustentação de sua causa, aumentando o tamanho dos fascículos. Foi uma folha de combate, que, em quase todo o império, produziu uma revolução nas idéias religiosas, e à qual se deve, em grande parte, a importância que assumiu a questão religiosa em Pernambuco. Sua leitura foi proibida pelo bispo. Essa revista, para a qual colaboraram vários dos primeiros escritores de Pernambuco, é um importante repertório de notícias sobre esse período. Registrou importantíssimas questões de direito constitucional e eclesiástico.

      O Cabeleira

      Ao leitor:

      MEU amigo,

      A casa onde moro está situada ao lado de uma rua de bambus, em um dos cantinhos mais amenos da bacia de Botafogo.

      Vejo daqui uma grande parte da baía, os morros circunstantes cravando seus cumes nas nuvens, o céu de opala, o mar de anil.

      Infelizmente este belo espetáculo não é imutável.

      De súbito o céu se torna brusco, e só descubro cabeços fumegantes em torno de mim; ribomba o trovão nos píncaros alcantilados; a chuva fustiga as palmeiras e casuarinas; a ventania brame no bambuzal; a casa estala. Parece que tudo vai derruir-se.

      Estas tormentas duram horas, noites, dias inteiros, e reproduzem-se com mais ou menos frequência.

      Quando elas têm passado de todo, o céu mostra-se mais puro e belo, o mar mais azul, as árvores mais verdes, a viração tem mais doçura, as flores mais deliciosos aromas.

      Pela face das pedreiras correm listrões d'água prateada, que refletem a luz do sol, formando brilhantes matizes. Coberta de frescas louçanias, a natureza sorri com suave gentileza depois de haver esbravejado e chorado como uma criança.

      É tempo de cumprir a promessa extorquida pela amizade, que não atendeu às mais legitimas escusas. Essa natureza brilhante e móvel estava a cada instante convidando o meu desânimo a romper o silêncio a que vivo recolhido desde que cheguei do extremo norte do império.

      Depois de cerca de dois anos de hesitações, dispus-me enfim a escrever estas pálidas linhas — notas dissonantes de uma musa solitária, que no retiro onde se refugiou com os desenganos da vida não pode esquecer-se da pátria, anjo das suas esperanças e das suas tristezas.

      Tive porém que melhor seria leres umas centenas de páginas na estampa, do que traduzires um volumoso in-fólio inçado de tantas emendas e entrelinhas que a mim mesmo custa às vezes decifrá-las, pela razão de que tudo aqui se escreveu sem ordem, sem arte, sem se atender a ideal, por aproveitar momentos vagos e incertos de uma pena que pertence ao Estado e à família.

      Por isso, em lugar de uma carta, receberás nessa encantadora Genebra, onde te delicias com a memória de Rousseau, Staël, Voltaire, Calvino — astros imortais, que rutilarão perpetuamente no firmamento da civilização — um livro hoje, outro talvez amanhã e alguns mais sucessivamente, até que me tenhas libertado da obrigação que me impuseste, conforme o permitirem as minhas forças diminuídas pelo meu afastamento das coisas literárias de nossa terra.

      Inicio esta série de composições literárias, para não dizer estudos históricos, com o Cabeleira, que pertence a Pernambuco, objeto de legítimo orgulho para ti, e de profunda admiração para todos os que têm a fortuna de conhecer essa refulgente estrela da constelação brasileira. Tais estudos, meu amigo, não se limitarão somente aos tipos notáveis e aos costumes da grande e gloriosa província, onde tiveste o berço.

      Pará e Amazonas, que não me são de todo desconhecidos; Ceará, torrão do meu nascimento; todo o Norte enfim, se Deus ajudar, virá a figurar nestes escritos, que não se destinam a alcançar outro fim senão mostrar aos que não a conhecem, ou por falso juízo a desprezam, a rica mina das tradições e crônicas das nossas províncias setentrionais.

      Depois de alguns meses de ausência, tornei a ver o Recife, esplêndida visão de teus sonhos nostálgicos. Lamento que, havendo sido transportado muito novo ainda ao velho mundo, não guardes dessa visão a menor lembrança, fugitiva embora. Genebra com o Mont-Blanc coberto de neves e gelos eternos; o lago imenso, que a um sem-número de poetas tem inspirado maviosos e imortais cantos; o Ródano que, ao dizer de um viajante nacional, "foge apressado, resmungando com voz medonha em procura de hospitalidade no Mediterrâneo", não pode ter a beleza dessa elegante e risonha cidade, que surge dentre mangues verdejantes, águas límpidas, pontes soberbas, e se estende por sobre vasta planície, obrigando os matos a se afastarem de dia em dia ao ocidente para ter espaço onde alongue de improviso suas novas ruas, suas estradas, seus trilhos, testemunhos de sua prosperidade material, comercial e agrícola; onde funde novas escolas e erija novos templos, testemunhos de sua civilização e grandeza moral.

      Vi o Pará, e adivinhei-lhe as incalculáveis riquezas ora ocultas no regaço de um futuro que, se não anunciou ainda a época precisa de sua realização, não se demorará muito, segundo se infere do que apresenta, em traduzir-se na mais brilhante realidade.

      E que direi do Amazonas, incompreensível grandeza, que tem a índole da imensidade e a feição do escândalo?

      Não há prodígio que se possa comparar com aquele no descoberto. Não creio que Rousseau fosse capaz de fantasiar semelhante, ainda que levasse toda a vida a imaginar, ele o filósofo sonhador que com suas idéias revolucionou o mundo; o homem cria a grandeza ideal, a grandeza física porém só Deus a concebe e executa. Staël em vão tentaria descrever esse reino encantado como descreveu Itália em sua imperecedora Corina em que o estudo dos monumentos e do passado não desdiz do coração, monumento de todos os tempos.

      Entrando ali, pareceu-me entrar em um templo fantástico e sem proporções. É natural o fenômeno: sempre que nos achamos diante das obras-primas da criação, secreto instinto nos adverte que estamos na presença de Deus. A admiração tem então a solenidade de um recolhimento e de uma homenagem. As impressões passam dos sentidos ao fundo da alma onde vão repetir-se com maior intensidade. Todas as nossas faculdades — a inteligência, a imaginação, a própria vontade — deixam-se dominar de uma como volúpia que não é sensual, mas deleitosa, e grande como é talvez o êxtase. Ainda quando tenhamos o espírito cansado dos erros e injustiça